04 janeiro, 2007

ÔNIBUS AMARELO ou FELIZ ANO NOVO.


São Paulo, 03 de janeiro de 2007.


Uma angústia me sufoca. Em tempos pouco existencialistas, diria minha priminha que mora longe, racionalmente tento começar este texto, mas não consigo.

De que matéria prima comburente, desejamos tirar o molde deste planeta? Que não a violência desmedida?

Pois a raiva e a ira são inerentes ao ser humano, como todos já puderam perceber ao longo de suas vidas. Ainda que tenha sido apenas assistindo ao filme Seven.

O que me consome as forças é a barbárie, como diria o Zumba, de nossa guerra civil. Do abandono e do desprezo, surge a semente do mal que nos acomete.

Meu semelhante, certamente filho, eventualmente irmão, despropositadamente ou por estupro, pai, levanta-se de sua cama em um dia qualquer, sabedor de sua capacidade destrutiva. Dirige-se a sei lá qual ponto de encontro macabro. Parte então para o local do combate.

Embriagado? Drogado? Não! É preciso estar realmente muito lúcido para ser tão monstruoso. Minhas ilusões poéticas se foram ao longo dos anos. Lúcido!

Lúcido e cruel! E sórdido. De alma apodrecida.

Seus pares, cercam um ônibus regular de transporte de passageiros na Avenida ... Brasil.
Armados de metralhadoras invadem o coletivo e depois do assalto, espalham gasolina e ateiam fogo!

Ali dentro, homens e mulheres, idosos e crianças, bebês de colo. Há janelas vedadas pela presença do ar-condicionado e sádicos armados metralhando do lado de fora! O retrato do horror.

Onde estão os magistrados? Não andam de ônibus.

Eu, sociedade civil, não imploro como pode parecer. Exijo providências. Mudanças imediatas em nossos códigos, para torná-los mais eficazes.

Ao Presidente e ao governador, meus cumprimentos, que esta mancha acompanhe suas trajetórias políticas a vida toda. Tolice rogar solidariedade de sentimentos em um ano não eleitoral.

Mas a vocês do Legislativo, escondidos nas profundezas do Planalto Central, minha ira.
Putrefatos canalhas de gravata, que alimentam o crime organizado, eleitos pela ignorância moribunda e analfabeta do nosso povo, traficantes, corruptos e malfeitores espalhados por entre as cadeiras do congresso, comendo do alimento produzido e financiado por nós!

Eu, civil, brasileiro, quero mudanças na constituição brasileira! Quero trabalho e respeito.

Quero a liberação da venda da maconha e a descriminalização do usuário de drogas.
Evidentemente que este deverá responder inapelavelmente por todos os seus deveres cívicos.
Quero penas severas ao traficante e dura repressão no combate ao narcotráfico.

Ou em último caso, quero todos vocês dentro de um ônibus da Viação Itapemirim.

03 janeiro, 2007

A MORTE DE SADDAM.



São Paulo, 03 de Janeiro de 2007.


O que nos difere das sociedades primitivas que sacrificavam vidas em troca de proteção divina?

Qual nossa efetiva contribuição para transformar a sociedade?

Com que olhar nos enxerga ou enxergará a história?

Saddam Hussein foi assassinado. A que propósito serve sua execução? Curdos e Xiitas festejam! George Bush saboreia sua Petro-vitória.

Enquanto isso, o número de soldados Yankes mortos no Iraque ultrapassa o de vítimas do WTC.

Enquanto isso, o Iraque e o Oriente Médio continuam em chamas.

Enquanto isso um novo mártir se insere na cartilha da guerra!

Saddam deveria ser armazenado, ter seus crimes apurados sob as lentes atentas das TVs do mundo todo, deveria cumprir sua pena perpétua sob os holofotes e sob as imagens constantes da destruição por ele causada. Pois enquanto estivesse vivo, serviria de modelo ao que deve ser combatido.

Mas, não!

Não é esta a necessidade! Não é esta a postura ser adotada, não pelos homens que alimentam a fogueira. De uma guerra que não tem fim. Do Fanatismo Financeiro Ocidental do Norte, contra o Fanatismo Fundamentalista Islâmico do Oriente.

Que algum cineasta almofadinha de Beverly Hills resolva filmar;

Os branquelos obesos do Texas, de paletó e tênis, montados em cavalos de espora, rifles e cartões de crédito em punho, marchando sobre crianças magras desdentadas, de turbante e sem alma. Que recitam os versos sagrados de sua miséria humana.

A morte de Saddam não serve ao bem. Ela acentua as diferenças no Iraque, promove o ódio e a revanche.

Nada do que digo é novidade, como também não é novidade que muitos ainda acreditem que seja possível apagar incêndios com gasolina.