26 novembro, 2009

CREME DE BARBEAR

foto:(Mário Oliveira)

São Paulo, 26 de Novembro de 2009.

A sirene não identificada aparece e desaparece lá fora e a chuva constante embala o soninho das meninas. Tão habituado às sirenes do centro, não sou capaz de distinguir a que passou.

Pois é, tão perto da avenida que parece na sala. Uma fase, de mudanças pra melhor. Casa nova, perspectivas novas; presente e futuro novos. Fases.

E na Bolívia comprei meu último creme de barbear. O que uso em todas as barbas, desde Julho de 2007. Trata-se do SHAVE CREAM, sensitive skin, extra thick, personal care (carinho pessoal em POrtuguÊS). O fato de ele durar tanto tempo deve se explicar pelo Bônus Size! Over 25% More Free.

Realmente gigante, pela módica quantia de 3 doletas, lá em Puerto Suarez, bem pertinho das maravilhosas margens do Rio Paraguai. Econômico. Este é o tipo de produto que não importa quanto você vai pagar. A relação de custo e benefício é sempre boa. Mas compre dos grandes.

Imensas, aprisionando Pintados, Dourados, Pacús e Jaús de mais de 100 quilos , com mato alto, bem verde servindo de moldura. As embarcações se recolhem no píer de madeira. Coberto de telhado de palha seca. Com dois bancos de madeira apontados para o leito observável. Ultra navegável.

Ao passar pela ponte nova, ligação entre o Brasil todo e Corumbá, vejo deslizar lentamente uma chata de minério vazia, colossal e mínima, sobre o mundo prateado de água refletindo o Sol do meio-dia.

O barquinho do pescador, bandeira da Bolívia tremulando ao vento, verde amarela e vermelha, com o céu muito azul de fundo encaixa melhor na música. As estradas de terra, vazias, de pó de deserto em suspensão, do caminho lindo de ida e volta, da beleza que só o que é simples tem.

E tem o trem.

E tem uma porção crianças morenas jambo, de uniforme escolar, saindo das aulas correndo pelas ruas do vilarejo, brincando em frente da estação. E o trem partindo.

Locomotiva cinza, um vagão vermelho de origem, alaranjado pelo tempo. Outros indefiníveis ou irrecordáveis. Ficam sendo todos os outros, cinza.

Muitos sem porta, como nos filmes, onde as pessoas viajam ao lado do feno ou sei lá do que. Passa um rapaz correndo, atrasado. O trem saindo, devagar. O incentivo parte de quem já está lá dentro, a mochila das costas é arremessada pra dentro do vagão, o agradecimento pela torcida vem português. O jovem elegante aparece de pé, vitorioso, camisa do Corinthians que é pra dar sorte.

Lá vai mais um trem da morte, cumprir, ligar, mostrar, assustar, encantar e tudo mais que você possa imaginar.

Não vou nele não, minha coragem se restringe a atravessar a fronteira Brasil/Bolívia, com o carro em ligação direta e minha filha de quatro anos no banco de trás. Não dá pra ir ao Peru assim.

Voltamos pro hotel, chamemos assim, hotelzinho. Ah, teve o pôr do Sol na rua do porto, já em Corumbá. Mas este não adianta eu tentar descrever, só vendo a foto.