(foto:Mário C. de Oliveira)
São Paulo, 11 de Abril de 2007.
O esporte, principalmente o futebol, sempre foi uma de minhas paixões. Para os próximos, isso não é novidade alguma.
Sairia facilmente distribuindo críticas, todas elas respaldadíssimas em conhecimento de causa, caso resolvesse comentar sobre a realização de uma Copa do Mundo aqui por estas paragens.
Sucede que o assunto anda borbulhando na mídia. Aliás, faz um tempo comecei um textinho sobre os jogos pan-americanos do Rio de Janeiro, com a mesma tendência de navegar nas críticas, ainda que a presença da canoagem e do nado sincronizado afagasse meu punho de arqueiro.
Andava enclausurado, entre não textos e aflições que insistiam em não sair, ruminando sobre o assunto.
Como Santo Domingo na República Dominicana, pode sediar tais jogos e o Rio não? Na verdade nenhum dos dois pode. Mas os critérios; rígidos critérios que tiraram o centenário olímpico de Atenas, entregando à Atlanta, não existem mais.
Em sociedades desorganizadas, desmobilizadas, não assistidas, de economia instável, fica muito mais fácil fazer jorrar o dinheiro!
O orçamento referente à realização de obras para o Pan sai do forno com números bem digeríveis. A estratégia é simples. O governo aprova o projeto, inicia as obras e no meio do caminho; surpresa! Faltam milhões! Não há saída, verbas suplementares, derrama do dinheiro público. Alguns, usando termo apropriado, nadando em dinheiro. O esporte brasileiro, principalmente o amador, abandonado como sempre.
Dizer que seria mais apropriado investir estas vultuosas somas em equipamentos, centros de treinamento, parques aquáticos seria tão inevitável quanto óbvio. Aqui entra um novo componente, por desconhecimento ou má fé, há quem diga que estas críticas estejam postas por antipatriotismo. Amparados na falsa premissa:
- É a oportunidade do atleta da modalidade desconhecida aparecer!
Neste país o atleta da modalidade desconhecida aparece quando a televisão precisa de um novo herói. Quando os meninos do vôlei estão de férias, ou as peladas futebolísticas não empolgam nem o mais fanático torcedor. Ou quando nosso melhor piloto de F1 não passa do terceiro lugar.
Na verdade ele está lá! Correndo descalço, desviando dos buracos da pista, ou sendo atropelado enquanto pedala nas ruas e estradas. Quase sempre sozinho, sem dinheiro pro transporte, muitas vezes sem almoço. E quando uma mulher brasileira, se não me falha a memória negra, chega em quarto lugar na final olímpica do Tae Kon Do, recebe todo o nosso desprezo.
O Brasil é assim. Trata assim seus atletas. Ignora as virtudes e aptidões de seu povo. E sempre que a oportunidade aparece, veste o verde e amarelo da hipocrisia e do cinismo, para urrar nas transmissões:
-O Brasil é ouro!
Ouro é o pai do Joaquim Cruz! Ouro é a família do Wanderlei Cordeiro de Lima!
O esporte transforma, integra, une, ensina. O esporte tira o jovem da rua.
Amo o esporte!
Os Jogos Pan Americanos são apenas mais uma oportunidade para grandes negócios e negociatas! Grandes empreiteiras e consórcios, construtoras, grandes bancos e seus empréstimos em troca de títulos públicos.
Patrocinadores monopolistas, redes de televisão, nacionais e ou globais, como queiram. Interesse econômico, esta é a modalidade. Interesse do capital e da casta que por esporte senta em cima do País.
Nesta sim somos medalha de ouro.
Bem, a Copa fica pra depois.