21 agosto, 2007

4.007.000.000


São Paulo, 07 de Agosto de 2007.

Muito bem. Por onde começar nesta sempre procura pelas palavras?

Comecemos pelo simples, pelo que não se floreia, pelo lucro do Bradesco no primeiro trimestre de 2007. Quatro Bilhões e pouquinho. Sendo que pouquinho quer dizer Sete Milhões de Reais.

4.007.000.000, é este número ai!

Há quem não se espante, são os que vivem no irreal deste planeta maluco.

Este lucro vem do R$ 1,50 que você paga quando emite um cheque inferior ao valor de 35 Reais. Vem da taxa R$ 2,00 cobrada quando você solicita um extrato da SUA conta, do SEU dinheiro por um período maior do que cinco dias. Vem dos juros indecentes cobrados sobre empréstimos a pequenos empresários, assalariados e desempregados.

Das taxas cobradas para a abertura, para gerenciamento e encerramento das contas correntes, inclusive as contas-salário.

Efetivamente vem da oferta de crédito encontrada nas montadoras e do crescente número de veículos vendidos nos últimos anos, financiados em 60, 70, 80 meses!

E assim vai o Brasil. Latifúndio monocultor de cana-de-açúcar para proporcionar lucro aos Bradescos.

23 maio, 2007

A alma do negócio.

(foto: Mário C. de Oliveira)

São Paulo, 12 de Janeiro de 2007.

Ouço nas ruas, nas filas dos bancos, humildes a espera dos ônibus reclamando sobre a proibição de utilização de mídia exterior, através da utilização de painéis publicitários. Aqueles gigantes e horrorosos das Faculdades Radial ou do ¨breganejo¨ Daniel de cuecas Mash.

Não! Calem-se! Se há algo que este prefeito insignificante fez de bom, foi esta lei! Fora com o pavor publicitário que nos assola!

-Mas onde vai ter propaganda agora? Só na Internet?

Que os relógios da cidade estampem gravuras de pintores em seus painéis e que a empresa responsável assine o anúncio, valorizando o institucional.

Radicalizo, fora com todos os letreiros e faixas. Quero ver as fachadas, quero saber se os arquitetos e engenheiros de hoje, são capazes de criar uma cidade harmônica e bela.

Os pontos de ônibus com trechos de poesia ou contos, com a assinatura do patrocinador. Nas praças, réplicas de esculturas envolvendo pequenas árvores e a assinatura do mantedor.

Fora com o feio, fora com a ocupação do horizonte público pelo dinheiro privado.

Para que São Paulo seja mais horizonte e menos privada.

03 maio, 2007

Jogos Pan-Americanos. Porque não.

(foto:Mário C. de Oliveira)

São Paulo, 11 de Abril de 2007.

O esporte, principalmente o futebol, sempre foi uma de minhas paixões. Para os próximos, isso não é novidade alguma.
Sairia facilmente distribuindo críticas, todas elas respaldadíssimas em conhecimento de causa, caso resolvesse comentar sobre a realização de uma Copa do Mundo aqui por estas paragens.
Sucede que o assunto anda borbulhando na mídia. Aliás, faz um tempo comecei um textinho sobre os jogos pan-americanos do Rio de Janeiro, com a mesma tendência de navegar nas críticas, ainda que a presença da canoagem e do nado sincronizado afagasse meu punho de arqueiro.

Andava enclausurado, entre não textos e aflições que insistiam em não sair, ruminando sobre o assunto.

Como Santo Domingo na República Dominicana, pode sediar tais jogos e o Rio não? Na verdade nenhum dos dois pode. Mas os critérios; rígidos critérios que tiraram o centenário olímpico de Atenas, entregando à Atlanta, não existem mais.
Em sociedades desorganizadas, desmobilizadas, não assistidas, de economia instável, fica muito mais fácil fazer jorrar o dinheiro!
O orçamento referente à realização de obras para o Pan sai do forno com números bem digeríveis. A estratégia é simples. O governo aprova o projeto, inicia as obras e no meio do caminho; surpresa! Faltam milhões! Não há saída, verbas suplementares, derrama do dinheiro público. Alguns, usando termo apropriado, nadando em dinheiro. O esporte brasileiro, principalmente o amador, abandonado como sempre.

Dizer que seria mais apropriado investir estas vultuosas somas em equipamentos, centros de treinamento, parques aquáticos seria tão inevitável quanto óbvio. Aqui entra um novo componente, por desconhecimento ou má fé, há quem diga que estas críticas estejam postas por antipatriotismo. Amparados na falsa premissa:

- É a oportunidade do atleta da modalidade desconhecida aparecer!

Neste país o atleta da modalidade desconhecida aparece quando a televisão precisa de um novo herói. Quando os meninos do vôlei estão de férias, ou as peladas futebolísticas não empolgam nem o mais fanático torcedor. Ou quando nosso melhor piloto de F1 não passa do terceiro lugar.

Na verdade ele está lá! Correndo descalço, desviando dos buracos da pista, ou sendo atropelado enquanto pedala nas ruas e estradas. Quase sempre sozinho, sem dinheiro pro transporte, muitas vezes sem almoço. E quando uma mulher brasileira, se não me falha a memória negra, chega em quarto lugar na final olímpica do Tae Kon Do, recebe todo o nosso desprezo.

O Brasil é assim. Trata assim seus atletas. Ignora as virtudes e aptidões de seu povo. E sempre que a oportunidade aparece, veste o verde e amarelo da hipocrisia e do cinismo, para urrar nas transmissões:

-O Brasil é ouro!

Ouro é o pai do Joaquim Cruz! Ouro é a família do Wanderlei Cordeiro de Lima!
O esporte transforma, integra, une, ensina. O esporte tira o jovem da rua.

Amo o esporte!

Os Jogos Pan Americanos são apenas mais uma oportunidade para grandes negócios e negociatas! Grandes empreiteiras e consórcios, construtoras, grandes bancos e seus empréstimos em troca de títulos públicos.
Patrocinadores monopolistas, redes de televisão, nacionais e ou globais, como queiram. Interesse econômico, esta é a modalidade. Interesse do capital e da casta que por esporte senta em cima do País.

Nesta sim somos medalha de ouro.

Bem, a Copa fica pra depois.

10 abril, 2007

LUA, LUA, LUA...



São Paulo, 10 de Abril de 2007.

Observo as reações de minha filha, as alegres e as tristes. Vejo as expressões do rosto, que mudam a cada estímulo externo. Partilho o olhar de felicidade a cada descoberta da vida, também o medo ante o desconhecido e o abraço da timidez em minhas pernas.

Na criança está o sutil, o delicado. O que ainda não é, mas espera vir a ser. Na criança mora a descoberta. O saber; a vontade de aprender.

Neste convívio entre pai e filho, recebemos um presente. O privilégio de observar, bem de perto, cada passo, cada surpresa, cada conquista.

Porém, se estamos apressados demais ou cansados demais, deixamos de sentir aflorar a vida no olhar do filhote.

Indescritível sensação, tonificante, isotônica; ouvir seu filho partilhar sentimentos e dúvidas é a suprema delícia!

Érika, professora de minha filha faltou ontem e ela ficou muito triste. Para piorar, a amiguinha Rebeca perdeu seu brinquedinho de ¨Hello Kit¨. Ana Lua e a tia Zô procuraram por ele, mas não encontraram.

Nós pais somos diariamente testados por nossos filhos. As transformações, as dúvidas, as constantes mudanças de temperamento e humor. Os limites. Os testes.

Depois de colocá-los para dormir, em geral quando voltamos ao quarto para cobri-los e beijá-los, invariavelmente refletimos. Sobre a brincadeira que faltou ou a insuficiente paciência. Cobranças de nosso comportamento inadequado, que retratam o esgotamento do dia-a-dia.

Contemplo sua delicadeza, frágil porcelana de toque suave Pelos finos e dourados na face do meu amor. Que range os dentes. Minha palma contorna a harmonia de seu rosto. Aliso seus cabelos. Encontro meus lábios em sua bochecha, beijo uma... Duas; deliciosas vezes! Aproximo-me da orelhinha e digo:

- O papai te ama!
- O papai está aqui! Bem pertinho!

Encosto meu rosto no dela, como quem pede desculpas; eternas desculpas pela imperfeição de um simples pai.

Saio do quarto mais forte!

03 abril, 2007

Tempo, tempo, tempo... (Resgate Arqueológico 1)



São Paulo, 13 de março de 2001.

Sinto o tempo passar frente à janela entreaberta dos meus olhos; agitado como um pássaro perdido que ruma sem destino. Procuro talvez a chave para abrir as portas da casa que me protegem do vento e me impedem de caminhar.

Às vezes espero que elas se abram sozinhas, outras vezes atiro-me estabanadamente pela janela. Felizmente, a dor da queda é menor do que a do caminho à frente, ela acaba ali no chão. Enquanto o resto do caminho nos faz doer incansavelmente a cada curva, todos os dias; e o tempo passa, sorrimos sem jeito, por vezes nos escondemos da chuva, por outras, poucas vezes, corremos n’ela, esperando encontrar alguma coisa em seu final...

Depois da chuva; mais uma curva e aí vem o vento a passar, fecho os olhos, se não vejo, não sinto.
Em meio à escuridão parece-me que as árvores, as flores, as pedras, ultrapassam-me velozmente; não! Estou ficando, cada vez mais distante, a cada momento mais escuro, preciso abrir os olhos, devagar... Não!

Não eram flores, mas preciso correr, afinal tenho um compromisso; com alguém. Comigo? Onde? Por que? Quando? Sozinho?

Espere; prefiro dormir na estrada, tomar chuva e às vezes sentir passar o vento!

26 março, 2007

Correio Elegante.




São Paulo, 26 de Março de 2007.

Ser mulher é acreditar mais firmemente em valores e princípios. Lutar incansavelmente por um objetivo e persistir muito além do compreensível.
Esta mulher de que falo tem braços, mãos e dedos capazes de tocar o ar. Seus ombros descobertos promovem o encontro da delicadeza e da sedução.
Esta mulher tem pescoço fino, cabelos perfumados e sorriso devastador!

As mulheres voam; é isso que as tornam tão belas e fascinantes.

04 janeiro, 2007

ÔNIBUS AMARELO ou FELIZ ANO NOVO.


São Paulo, 03 de janeiro de 2007.


Uma angústia me sufoca. Em tempos pouco existencialistas, diria minha priminha que mora longe, racionalmente tento começar este texto, mas não consigo.

De que matéria prima comburente, desejamos tirar o molde deste planeta? Que não a violência desmedida?

Pois a raiva e a ira são inerentes ao ser humano, como todos já puderam perceber ao longo de suas vidas. Ainda que tenha sido apenas assistindo ao filme Seven.

O que me consome as forças é a barbárie, como diria o Zumba, de nossa guerra civil. Do abandono e do desprezo, surge a semente do mal que nos acomete.

Meu semelhante, certamente filho, eventualmente irmão, despropositadamente ou por estupro, pai, levanta-se de sua cama em um dia qualquer, sabedor de sua capacidade destrutiva. Dirige-se a sei lá qual ponto de encontro macabro. Parte então para o local do combate.

Embriagado? Drogado? Não! É preciso estar realmente muito lúcido para ser tão monstruoso. Minhas ilusões poéticas se foram ao longo dos anos. Lúcido!

Lúcido e cruel! E sórdido. De alma apodrecida.

Seus pares, cercam um ônibus regular de transporte de passageiros na Avenida ... Brasil.
Armados de metralhadoras invadem o coletivo e depois do assalto, espalham gasolina e ateiam fogo!

Ali dentro, homens e mulheres, idosos e crianças, bebês de colo. Há janelas vedadas pela presença do ar-condicionado e sádicos armados metralhando do lado de fora! O retrato do horror.

Onde estão os magistrados? Não andam de ônibus.

Eu, sociedade civil, não imploro como pode parecer. Exijo providências. Mudanças imediatas em nossos códigos, para torná-los mais eficazes.

Ao Presidente e ao governador, meus cumprimentos, que esta mancha acompanhe suas trajetórias políticas a vida toda. Tolice rogar solidariedade de sentimentos em um ano não eleitoral.

Mas a vocês do Legislativo, escondidos nas profundezas do Planalto Central, minha ira.
Putrefatos canalhas de gravata, que alimentam o crime organizado, eleitos pela ignorância moribunda e analfabeta do nosso povo, traficantes, corruptos e malfeitores espalhados por entre as cadeiras do congresso, comendo do alimento produzido e financiado por nós!

Eu, civil, brasileiro, quero mudanças na constituição brasileira! Quero trabalho e respeito.

Quero a liberação da venda da maconha e a descriminalização do usuário de drogas.
Evidentemente que este deverá responder inapelavelmente por todos os seus deveres cívicos.
Quero penas severas ao traficante e dura repressão no combate ao narcotráfico.

Ou em último caso, quero todos vocês dentro de um ônibus da Viação Itapemirim.

03 janeiro, 2007

A MORTE DE SADDAM.



São Paulo, 03 de Janeiro de 2007.


O que nos difere das sociedades primitivas que sacrificavam vidas em troca de proteção divina?

Qual nossa efetiva contribuição para transformar a sociedade?

Com que olhar nos enxerga ou enxergará a história?

Saddam Hussein foi assassinado. A que propósito serve sua execução? Curdos e Xiitas festejam! George Bush saboreia sua Petro-vitória.

Enquanto isso, o número de soldados Yankes mortos no Iraque ultrapassa o de vítimas do WTC.

Enquanto isso, o Iraque e o Oriente Médio continuam em chamas.

Enquanto isso um novo mártir se insere na cartilha da guerra!

Saddam deveria ser armazenado, ter seus crimes apurados sob as lentes atentas das TVs do mundo todo, deveria cumprir sua pena perpétua sob os holofotes e sob as imagens constantes da destruição por ele causada. Pois enquanto estivesse vivo, serviria de modelo ao que deve ser combatido.

Mas, não!

Não é esta a necessidade! Não é esta a postura ser adotada, não pelos homens que alimentam a fogueira. De uma guerra que não tem fim. Do Fanatismo Financeiro Ocidental do Norte, contra o Fanatismo Fundamentalista Islâmico do Oriente.

Que algum cineasta almofadinha de Beverly Hills resolva filmar;

Os branquelos obesos do Texas, de paletó e tênis, montados em cavalos de espora, rifles e cartões de crédito em punho, marchando sobre crianças magras desdentadas, de turbante e sem alma. Que recitam os versos sagrados de sua miséria humana.

A morte de Saddam não serve ao bem. Ela acentua as diferenças no Iraque, promove o ódio e a revanche.

Nada do que digo é novidade, como também não é novidade que muitos ainda acreditem que seja possível apagar incêndios com gasolina.