10 abril, 2007

LUA, LUA, LUA...



São Paulo, 10 de Abril de 2007.

Observo as reações de minha filha, as alegres e as tristes. Vejo as expressões do rosto, que mudam a cada estímulo externo. Partilho o olhar de felicidade a cada descoberta da vida, também o medo ante o desconhecido e o abraço da timidez em minhas pernas.

Na criança está o sutil, o delicado. O que ainda não é, mas espera vir a ser. Na criança mora a descoberta. O saber; a vontade de aprender.

Neste convívio entre pai e filho, recebemos um presente. O privilégio de observar, bem de perto, cada passo, cada surpresa, cada conquista.

Porém, se estamos apressados demais ou cansados demais, deixamos de sentir aflorar a vida no olhar do filhote.

Indescritível sensação, tonificante, isotônica; ouvir seu filho partilhar sentimentos e dúvidas é a suprema delícia!

Érika, professora de minha filha faltou ontem e ela ficou muito triste. Para piorar, a amiguinha Rebeca perdeu seu brinquedinho de ¨Hello Kit¨. Ana Lua e a tia Zô procuraram por ele, mas não encontraram.

Nós pais somos diariamente testados por nossos filhos. As transformações, as dúvidas, as constantes mudanças de temperamento e humor. Os limites. Os testes.

Depois de colocá-los para dormir, em geral quando voltamos ao quarto para cobri-los e beijá-los, invariavelmente refletimos. Sobre a brincadeira que faltou ou a insuficiente paciência. Cobranças de nosso comportamento inadequado, que retratam o esgotamento do dia-a-dia.

Contemplo sua delicadeza, frágil porcelana de toque suave Pelos finos e dourados na face do meu amor. Que range os dentes. Minha palma contorna a harmonia de seu rosto. Aliso seus cabelos. Encontro meus lábios em sua bochecha, beijo uma... Duas; deliciosas vezes! Aproximo-me da orelhinha e digo:

- O papai te ama!
- O papai está aqui! Bem pertinho!

Encosto meu rosto no dela, como quem pede desculpas; eternas desculpas pela imperfeição de um simples pai.

Saio do quarto mais forte!

03 abril, 2007

Tempo, tempo, tempo... (Resgate Arqueológico 1)



São Paulo, 13 de março de 2001.

Sinto o tempo passar frente à janela entreaberta dos meus olhos; agitado como um pássaro perdido que ruma sem destino. Procuro talvez a chave para abrir as portas da casa que me protegem do vento e me impedem de caminhar.

Às vezes espero que elas se abram sozinhas, outras vezes atiro-me estabanadamente pela janela. Felizmente, a dor da queda é menor do que a do caminho à frente, ela acaba ali no chão. Enquanto o resto do caminho nos faz doer incansavelmente a cada curva, todos os dias; e o tempo passa, sorrimos sem jeito, por vezes nos escondemos da chuva, por outras, poucas vezes, corremos n’ela, esperando encontrar alguma coisa em seu final...

Depois da chuva; mais uma curva e aí vem o vento a passar, fecho os olhos, se não vejo, não sinto.
Em meio à escuridão parece-me que as árvores, as flores, as pedras, ultrapassam-me velozmente; não! Estou ficando, cada vez mais distante, a cada momento mais escuro, preciso abrir os olhos, devagar... Não!

Não eram flores, mas preciso correr, afinal tenho um compromisso; com alguém. Comigo? Onde? Por que? Quando? Sozinho?

Espere; prefiro dormir na estrada, tomar chuva e às vezes sentir passar o vento!