( Referência à partida, Corinthians x River Plate, Pelas 8ªs de final da Copa Libertadores de 2006)
São Paulo, 05 de Maio de 2006.
Estive no estádio do Pacaembu ontem. Fui até lá para tentar construir no inconsciente do torcedor corinthiano a certeza da vitória. Como se estivesse ao meu alcance, com palavras serenas e calmas, garantir que desta feita, as coisas seriam realmente diferentes do que sempre são.
Para tanto, enchi-me de respiração abdominal; um bom cigarrinho e umas três cervejinhas. Evoquei as cores e luzes da mamãe, a imagem do filhinho do Zé Luis esperando o gol do Tevez, de fora da área, que eu prometera; mesmo porque, bastava enumerar os bons jogadores de cada time e perceber que desta vez venceríamos, ainda que soubesse da fragilidade de nossa defesa.
Estava calmo, ou quase, mas não convencido, tentei em vão, não convenci ninguém. Talvez por breves segundos, apenas entre o lance do gol, pacificador de espíritos e o chute para fora, quando deveria servir a Tevez, livre na pequena área, ambos assinalados por Nilmar.
O corinthiano matreiro, cheio de cicatrizes no coração sabe identificar os sinais da má vontade do destino. Silêncio e intervalo.
Tudo Continuou acontecendo de maneira assustadoramente natural. Saí da posição em que estava para ter uma melhor colocação nos lances do 2º tempo. O sentimento de intranqüilidade que emanava das arquibancadas de certo contagiava os jogadores e tudo ficou mais evidente no momento em que o River Plate empatou.
A soma de uma sucessão de erros e todo o desequilíbrio emocional da torcida impediam qualquer reação. A seqüência de acontecimentos era um roteiro já conhecido, sofrimento do imaturo torcedor corinthiano, que transforma um sonho em obsessão e tudo isso em fracasso.
Para ganhar a Libertadores é necessário planejamento. Sintonia no quadro diretivo do clube. Um bom treinador é quase imprescindível e a torcida deve aprender que precisa passar além de força, tranqüilidade à equipe.
O impaciente corinthiano reclama aos primeiros erros do time e passa imediatamente a ser também um adversário em certos momentos. Quando o torcedor do Corinthians deixa o equilíbrio de lado, oferece a face ao adversário palmeirense, são paulino e santista, que minam sua confiança e obtém o resultado desejado com suas provocações através da pressão desmedida que acaba recaindo sobre os jogadores.
Sabemos da agressividade com que somos achincalhados. Orgulhamos-nos de sermos sempre nós, contra todos os outros. Para isso é necessário fidelidade.
Perdemos, precisamos entender a dimensão da tristeza e assim construir e fazer o Corinthians grande.