São Paulo, 07 de Julho de 2006.
Se perguntassem a você qual é a cor da chuva, qual seria sua resposta?
Quando menino meu pai costumava me levar ao Rio de Janeiro no que mais tarde ficaria conhecido como trem de prata. Aliás, hoje ele não existe mais. Faz alguns anos tentaram reativá-lo, porém as passagens eram caríssimas, pode-se dizer que hoje ele esteja extinto.
Bem, já que toquei no assunto as viagens de trem para o Rio eram deliciosas. Com excelente esforço de memória posso dizer que as cabines eram aconchegantes, havia um armário embutido na parede que dava fundos ao banheiro, logo ao lado da porta. Havia uma pequena mesa e uma poltroninha dispostas frontalmente uma à outra, cada qual encostada em uma das paredes laterais. Oposta à porta de entrada do leito havia uma janela enorme, com uma espécie de persiana, que aberta permitia uma visão privilegiada do entorno dos trilhos. No limite mínimo da janela havia uma cama presa à parede, porém, desarmada, ficando toda ela encostada na lateral abaixo da janela sem ocupar espaço. O segundo leito ficava acima do janelão, e para meu tamanho de menino posso dizer que era bem confortável.
Mas a diversão começava antes. As saídas de trem para o Rio de Janeiro aconteciam apenas às sextas-feiras à noite o que por si só era atrativo para um garoto de quatro para cinco anos. Lembro-me de mais, lembro das escadas e plataformas pelas quais passávamos antes do embarque. Se tivesse que dizer a temperatura, tenderia a dizer que era frio. Lembro do relógio redondo da estação, dos gradis, que mais tarde, quando da descoberta da história, por filmes ou na escola, remeteram-me a uma lembrança quase européia, quase inglesa.
O deslocamento dentro do trem era outra diversão; você saía da cabine, todas elas situavam-se do lado direito do trem, no sentido de quem vai dos fundos para a locomotiva. Do lado esquerdo, janelas permitiam que se visse o outro lado da ferrovia. A passagem de um vagão para outro era feita através de uma ligação sanfonada, com duas portas, uma em cada vagão e um espaço interno fechado, entre as duas, que creio eu ficava em exatamente em cima dos engates, de aproximadamente um metro, que embora totalmente fechado, tinha uma superfície que se movia para os lados conforme a movimentação do trem. Nada que causasse pânico visto que ali se gastava apenas um passo.
O “Gran Finale” ficava por conta do carro restaurante, chegávamos para jantar e sentávamos em mesas com dois bancos com encosto, como no Jack in the Box, ou qualquer lanchonete destas, dispostas uma às costas da outra. Havia uma cortina de renda nas janelas, um vaso com flores no centro de cada mesa. Jantávamos. Curiosamente lembro-me de sopas, depois voltávamos para enfeitiçadamente admirar o janelão.
A luz da Lua era a maior responsável pela iluminação da paisagem. Acredito ter sido ali minha introdução ao mundo do cinema, afinal tudo ali parecia filme, a árvore, a casinha, outra árvore, o ciclista, a vaquinha, o movimento!
Todas às vezes, pedia para ficar só mais um pouquinho acordado quando chegava à hora de dormir. Papai e Mamãe compravam umas revistas com atividades para decalcar, recortar colorir, que eu amava, e guardava dentro do armário da cabine.
Adormecia, o barulho do deslocamento do trem sobre os trilhos da ferrovia embalavam o sono. Era fácil sonhar!
O trem chegava sempre muito cedo ao Rio, por volta das 6 da manhã. Agora entendo, era servido também, no carro restaurante, o café da manhã, que nunca tomei, pois era servido somente até a hora da chegada. Claro, Papai e Mamãe deviam ir namorar enquanto eu dormia. Era possível também ficar nas cabines mesmo com o trem já parado, já no Rio, até umas 8 horas. Mamãe deve saber melhor. Permitindo aos passageiros um descanso extra e um desembarque tranqüilo. Um verdadeiro prazer. Tudo isso para ver a Vovó Luly.
Esta é sem dúvida uma das minhas mais maravilhosas lembranças dos tempos de criança. Muito obrigado Papai.
A propósito, na época eu costumava chamar aquele trem, o de prata, de transparente, ou melhor;
O trem era cor de “parente”, como a chuva.
Se perguntassem a você qual é a cor da chuva, qual seria sua resposta?
Quando menino meu pai costumava me levar ao Rio de Janeiro no que mais tarde ficaria conhecido como trem de prata. Aliás, hoje ele não existe mais. Faz alguns anos tentaram reativá-lo, porém as passagens eram caríssimas, pode-se dizer que hoje ele esteja extinto.
Bem, já que toquei no assunto as viagens de trem para o Rio eram deliciosas. Com excelente esforço de memória posso dizer que as cabines eram aconchegantes, havia um armário embutido na parede que dava fundos ao banheiro, logo ao lado da porta. Havia uma pequena mesa e uma poltroninha dispostas frontalmente uma à outra, cada qual encostada em uma das paredes laterais. Oposta à porta de entrada do leito havia uma janela enorme, com uma espécie de persiana, que aberta permitia uma visão privilegiada do entorno dos trilhos. No limite mínimo da janela havia uma cama presa à parede, porém, desarmada, ficando toda ela encostada na lateral abaixo da janela sem ocupar espaço. O segundo leito ficava acima do janelão, e para meu tamanho de menino posso dizer que era bem confortável.
Mas a diversão começava antes. As saídas de trem para o Rio de Janeiro aconteciam apenas às sextas-feiras à noite o que por si só era atrativo para um garoto de quatro para cinco anos. Lembro-me de mais, lembro das escadas e plataformas pelas quais passávamos antes do embarque. Se tivesse que dizer a temperatura, tenderia a dizer que era frio. Lembro do relógio redondo da estação, dos gradis, que mais tarde, quando da descoberta da história, por filmes ou na escola, remeteram-me a uma lembrança quase européia, quase inglesa.
O deslocamento dentro do trem era outra diversão; você saía da cabine, todas elas situavam-se do lado direito do trem, no sentido de quem vai dos fundos para a locomotiva. Do lado esquerdo, janelas permitiam que se visse o outro lado da ferrovia. A passagem de um vagão para outro era feita através de uma ligação sanfonada, com duas portas, uma em cada vagão e um espaço interno fechado, entre as duas, que creio eu ficava em exatamente em cima dos engates, de aproximadamente um metro, que embora totalmente fechado, tinha uma superfície que se movia para os lados conforme a movimentação do trem. Nada que causasse pânico visto que ali se gastava apenas um passo.
O “Gran Finale” ficava por conta do carro restaurante, chegávamos para jantar e sentávamos em mesas com dois bancos com encosto, como no Jack in the Box, ou qualquer lanchonete destas, dispostas uma às costas da outra. Havia uma cortina de renda nas janelas, um vaso com flores no centro de cada mesa. Jantávamos. Curiosamente lembro-me de sopas, depois voltávamos para enfeitiçadamente admirar o janelão.
A luz da Lua era a maior responsável pela iluminação da paisagem. Acredito ter sido ali minha introdução ao mundo do cinema, afinal tudo ali parecia filme, a árvore, a casinha, outra árvore, o ciclista, a vaquinha, o movimento!
Todas às vezes, pedia para ficar só mais um pouquinho acordado quando chegava à hora de dormir. Papai e Mamãe compravam umas revistas com atividades para decalcar, recortar colorir, que eu amava, e guardava dentro do armário da cabine.
Adormecia, o barulho do deslocamento do trem sobre os trilhos da ferrovia embalavam o sono. Era fácil sonhar!
O trem chegava sempre muito cedo ao Rio, por volta das 6 da manhã. Agora entendo, era servido também, no carro restaurante, o café da manhã, que nunca tomei, pois era servido somente até a hora da chegada. Claro, Papai e Mamãe deviam ir namorar enquanto eu dormia. Era possível também ficar nas cabines mesmo com o trem já parado, já no Rio, até umas 8 horas. Mamãe deve saber melhor. Permitindo aos passageiros um descanso extra e um desembarque tranqüilo. Um verdadeiro prazer. Tudo isso para ver a Vovó Luly.
Esta é sem dúvida uma das minhas mais maravilhosas lembranças dos tempos de criança. Muito obrigado Papai.
A propósito, na época eu costumava chamar aquele trem, o de prata, de transparente, ou melhor;
O trem era cor de “parente”, como a chuva.
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