02 outubro, 2006

O JABUTI E A FADA DO JARDIM.


São Paulo, 28 de Março de 2006

Era uma vez;

Um Jabuti muito, muito especial.

Desde cedo a vida tinha ensinado a ele que sempre deveria acreditar na fantasia.
Na escola, gostava muito das aulas de literatura da professora coruja, que vivia pedindo a ele que escrevesse poesias, atividade em que era especialista.
Como tinha perninhas muito curtas, sofria um pouco nas aulas do formigão, professor de Educação Física, adorava futebol, mas era sempre o último a ser escolhido. Pudera, nunca chegava a tempo para as disputas de bola, certa vez, foi confundido com a própria e abocanhado pelo colega cachorro.
- Hei! Com este moleirão não brinco mais!
- É melhor não falar assim, pois senão ele corre atrás da gente. -Disse o gato Juarez.
- Que nada. - Disse o Sapo Cururu. Ele é assim mesmo, velho, feio e vagaroso.
- Epa! Eu não sou velho não! Sou um Jabuti jovem, estou na flor da idade, e a Fada do Jardim vai trazer uma jabota para ser meu par.

Assim acontecia quase todo dia, os bichinhos muito intolerantes faziam pouco caso do nosso amigo.
Bem, deixem-me contar a lenda da Fada do Jardim!
Ali, logo depois do canteiro de margaridas, onde moram as borboletas, havia uma construção gigantesca, era lá que os cachorros passavam a noite. De lá também saía uma serpente muito engraçada, que cuspia água e fazia chuva, mesmo nos dias mais ensolarados. Bem ali, morava uma fada muito bonita, era alta, tinha cabelos longos, negros como a noite, de olhos verdes, quase transparentes.

A Fada do Jardim aparecia de vez em quando, e num passe de mágica, lá estava o morador novo no jardim.

O sábio sabiá, dizia que a fada não existia; que o Jabuti havia chegado lá em uma caixa, e que a qualquer momento ele deveria virar um sapato, porque Di Pollini é marca de sapato e não de Jabuti.

Assim, o tempo foi passando.

Colibris e pombos haviam feito seus ninhos, e até bebezinhos já tinham. Os cachorrinhos brincavam dia e noite, Juarez, tinha uma namorada no jardim do outro lado do deserto preto, onde animais furiosos passam, fazendo barulho e cuspindo fumaça. Um deles inclusive passou por cima de um dos filhotes da Dona Coelha, pobrezinho, foi uma tristeza, mas isso sempre acontece. As joaninhas, já adolescentes, passavam de mãos dadas com seus namorados gafanhotos. Cigarras cantavam toda a noite e eram as únicas a fazer companhia ao solitário Jabuti.

Até que um dia...

De manhã, logo cedinho, uma gritaria e um alvoroço tomaram conta do jardim. O diz que diz, dava conta de que a Fada do Jardim estava por lá, e que era dia de magia.
O Jabuti, que passara os últimos seis meses compondo uma poesia para a Dona Coruja, ao saber, saiu o mais rápido que pôde.

- É hoje! Vou ganhar uma companheira!
Seus olhos encheram-se novamente de esperança, ultrapassou um casal de lesminhas que estavam pelo caminho.
- Hei; desculpe seu caramujo!
- Caramujo nada! Ainda pago aluguel, não tenho casa própria.

Era uma festa, algazarra geral. O Jabuti enxergava ao longe os bichinhos em volta da Fada do Jardim, pulando felizes, tudo o que ele queria era estar ali. Cansado, diminuiu a marcha, tentava chegar com muito esforço, suas perninhas estavam fracas e ele sentou para descansar um pouco.

Vinte minutos depois...

Já estava em marcha novamente, porém percebeu que a cantoria havia terminado. Mesmo assim continuou em direção ao local da festa. No caminho encontrava bichinhos que já voltavam...
-Hei, já está indo para a reunião do ano que vem? -Perguntou o Juarez-
- Não, vou ver minha amiga Jabota!
- Que nada, pode esquecer, a fada trouxe um casal de Preás.
- Não é possível! – Exclamou o Jabuti-

Ao chegar ao local encontrou somente uma caixa com furinhos, nela os dizeres, Di Pollini.
Pensou no que havia lhe contado o sabiá, seus olhos brilharam, começou a procurar.
Olhando em volta percebeu, próximo ao Jatobá Gigante um casal de roedores procurando um lugar para cavar seu buraco.
Encostou-se a uma pedra, fechou os olhinhos e chorou bem baixinho para ninguém ouvir.

Repentinamente sentiu alguma coisa tocar suas costas, mexeu as perninhas, mas não encontrou o chão. Abriu os olhos assustado, gritou por socorro! Só então percebeu: A bela, mais bela do que ele poderia imaginar, Fada do Jardim colocou-o suavemente na palma de sua mão. Foi aproximando o pequeno animalzinho de seu rosto e lhe deu um beijo bem no meio da carapaça.
Neste momento, como por encanto, a linda Fada do Jardim tranformou-se na mais linda Jabota de que se tem notícia.
E os dois foram felizes para sempre...

Um comentário:

Anônimo disse...

Que fofinha! Já li e os meninos adoraram.Querem mais!!!